sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Sentou-se no tempo

Em dado momento de suas vidas, ela sentou e decidiu observar. Esperou o tempo passar como uma mãe esperava o filho nascer. Toda a paciência do mundo a abraçava. Eram um.
Seja por qual for o motivo, começou a chover. Chovia e cessava. Ainda assim, ela nunca tirou a cadeira dali. Estava decidida a ficar.
Ninguém, nem ela mesmo, sabe ao certo qual era o seu objetivo. Mas estar ali por estar por perto já lhe parecia bom. E era só. Sem justificativas, sem objetividade. Afinal, nada na vida lhe parecia assim, tão objetivo.

She

Ela enxergava.
A distância e paredes nunca foram obstáculos.
Ela observava.
Se metia, mesmo sabendo que tudo poderia dar errado.
Ela suspirava.
Via no mundo, o potencial que quase ninguém via.
Ela experimentava.
Tinha o objetivo como meta, só ia quando realmente queria.

E amava.
Como se mais nada existisse, como se sobreviver, conseguisse, depois de tantas quedas.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Dois-dois

Como em uma dança, onde o par era escolhido para sair da sedentária existência; ele a chamou. Pegou pela mão e lhe conduziu a dançar pela vida. Ela não via graça, ele insistia. Ela não se interessava, ele reagia. Contudo, em uma batalha temporal de olhares, eis que o foco muda. Ela, agora, o achava o melhor condutor do seu mundo. Ele jurava não soltar sua mão. O tempo passou. A música chegava às suas últimas notas. Ele, com cuidado, ia alertando que sua partida era imprevista, mas que não a deixaria cair ao fim.
Trocaram valores, olhares e costumes. Aprenderam sobre a vida, sobre as lutas e sobre o existir. E do salão, foram embora. Eram dois desconhecidos, agora, porém, com algo do outro em si. Para sempre.

00:00

Sentia cada grão de areia tocar cada ponto em contato do corpo ao chão. A brisa parecia pentear os cabelos. Mas não era um dia comum. Pensamentos e suposições dançavam em sua mente. Seus dias, há tempos, já não eram vazios de preocupações e por mais que esses passassem e o tempo fizesse o seu sopro atenuar, nada lhe parecia tão morno por muito tempo. Eram ondas de calmaria e partidas; e por outro lado, agitadas tempestades. Contudo surgiam, como em um ímpeto grito da alma, lembrando-o que se enganar e lateralizar o que sentia de nada adiantava. Já havia se passado muito tempo. Muita perda de tempo. Muito vagar sem onde chegar. Já era hora de acordar. Era dia e tudo escapava aos poucos entres os dedos. O relógio marcava 00:00.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sopro

Por baixo do mar, calmaria.
Por consequência da tempestade, o amanhecer.
Limpo e claro. Doce e manso.
Tudo sempre acabam se arrumando.
Aperta daqui, arruma dali.
Sofre daqui, aprende acolá.
Tudo para construir um novo e mais firme sorriso.
Bases sólidas. Reforço estrutural.
Nasce dali, alguém novo.
Cicatriza e te reinventa.
Revive.

sábado, 23 de novembro de 2013

Turista em mim

Deito sobre o chão.
Perdida em pensamentos, pareço flutuar em um submundo. Nele, me vejo de fora. Observo meus medos, minhas paixões. Salto sobre buracos, faces sem feições.

Me desligo do mundo.
Caminho sob o luar, me levo à viagens por sensações construídas em cada divagar.

Pareço turista em meu próprio eu.
Com todas as mudanças, com tantos recomeços que não poderia reconhecer-me a um passo seu.

Acordo e me reavalio, tenho como objetivo diário reparações contínuas. Sou eu hoje, amanhã um eu melhor; e depois um eu que me procure. Mas sempre eu. E sempre em busca. E sempre em frente.

O triste coletor de sorrisos

Conquistava sorrisos por onde passava.
Era querido, sempre tinha algo bom a dizer.
Era ouvido, o que fosse, te ajudava a fazer.
Disposto a dar a mão a quem fosse, era sempre presente.
Todos o admiravam, o queriam bem.
Tratava bem, era educado.
Ouvia boas músicas, indicava às pessoas.
Ainda assim, não era feliz.
Nada do que conquista, na verdade, não condiz.
Era rodeado de pessoas e mesmo assim,
Não deixava ninguém por perto.
Amigo de todos, mas nem todos considerava amigos.
Mantinha limites. Mais distância. Mais paredes.
Procura a felicidade, ainda assim.
Ainda que dessa forma, segue em busca, enfim.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Babel

Foi como estar ali e não existir.
Por dentro, um aperto e daí,
Cada poro da pele se desfez.
Aquaplanei no mar dos pensamentos.
Havia um vórtice de ideias ao meu redor.
Eu era engolida pelas ondas.
Tumulto, objetos que voavam.
Não pareciam buscar um só sentido.
Foi um risco, era preciso correr.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Was

Palavras entorpecentes.
Ciranda de culpas transcendentes.
Sorrisos autoexplicativos.
Eu queria sair por aí e dançar.
Segura a minha mão e me faz segura.
Sim, era verdade. Era cabível.
O tempo estava dormindo.

Sobre o que se encerra

A efemeridade da vida nos ensina diariamente sobre o encerramento de ciclos. As coisas passam. As pessoas, os lugares, os contextos mudam. O que hoje lhe aparece como oportunidade, nunca mais virá visitar-lhe da mesma forma novamente. O fruto, uma vez caído ao chão, não retorna ao caule. O que dali, era uma linda flor; não mais será beijada pelo colibri. A carruagem do tempo passa levando escolhas, situações que mudariam a sua vida. Se passa, nunca mais volta. E se acaba, nunca mais repete.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

The eye

Linha de tráfego intensa de informações. O que não se fala. O que, talvez, não se diz. Leitura de feições. Vejo tantos significados. Gritos loucos do silêncio ético e conveniente. Pensares sem bloqueio. Forma branda do expressar. Líquida verdade derramada no tapete da sala. Transcrição dos medos. Linhas e linhas de inquietudes inexprimíveis. Só o olhar é. Só o olhar te mostra. Só o olhar entrega. Por isso, sou fã de olhares.

domingo, 17 de novembro de 2013

Ha Ha Ha

Gargalhadas. Risos que tiram a capacidade de respirar.
Rostos vermelhos, roxos, azuis!

Paro. Observo.
Fazer parte, fazer companhia nos faz querer viver ainda mais.
Nada é mais aconchegante que um sorriso de boas vindas.
Combustível para os rebolados da vida.
Motivação para ser e estar por outras pessoas.

Porque o que nos faz feliz é fazer alguém ser tão feliz com nossa contribuição.
Porque o que nós faz feliz é ver vida em cada arco facial desses sumidos.
O que nos faz feliz é viver, dando vida.

Passagens

Eu te vi passar. Uma, duas vezes por aqui.
Estava a cantar. Rodopiando no meu jardim.
Eis que meus olhos viam o meio.
E eu, que era torta, me arrumei.
Esperei a hora, pontual, como sempre.
Eram loucos com horário.
Eis que era o tempo.
E fui embora.

Start

São novos dias.
Hoje, o canto do pássaro do meu quintal se faz mais afinado.
A claridade, deixei entrar sem a proteção das cortinas.
Chega de um navegar tão cheio de sombras.
O rumo, hoje, vou tomar.
À frente, em busca do novo, vou continuar.

Um chá de lucidez, por favor.
Não é possível que a vida seja só isso.
Olhei tanto de olhos fechados, que esqueci do outro lado.
Posso rir, posso voar por aí.
Amadureci, mas não morri.
Há vida, existem sonhos por aqui.

sábado, 16 de novembro de 2013

The Moon

Mais uma vez, estou na janela.
A claridade lunar me chamou para fora.
Quis me mostrar sua beleza.
Aceitei, segui. Cá estou a olhá-la.
Posso sentir cada fio de luz a se debruçar sob minha pele.

Velha companheira, essa lua.

Wall

Andei por um caminho em que não havia luz.
Não tinha a mínima idéia de onde me levaria.
Foi como andar de olhos fechados.
Caminhando, segui.
Hoje, senti algo. Uma parede.
É o fim da linha, um beco sem saída.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Humanecendo

Um manto de lucidez me cobre. Me abraço, me aperto junto a ele.
Encolhida no canto do quarto, o tempo passa.
Lá de fora, escuto buzinas, freios e batuques.
Ouço gritos. Esse vêm de dentro de mim.
São as faltas. Elas se calam por tanto tempo que as esqueço.
E de repente, acordam.
A falta de amor, a falta de paciência.
A falta de sinceridade, a falta de verdade.
Tudo falta, nada se soma em meus passos interiores.
Sou a humanidade e não consigo sair do lugar.

Já não era mais

Eu não lembro em que ponto tudo se perdeu.
Era final de um dia estressante.
Recebi uma ligação e me propus a te ouvir e ajudar como podia.
Eu te encontrei, te abracei e fingimos uma intimidade perdida há algum tempo.
Toquei os teus dedos e me lembrava disso.
Senti o seu cheiro e me lembrava disso.
Daí, eu fui embora. Te deixei sem resposta a uma pergunta que não cabia.
O dia continuou, o tempo passou e nada aconteceu.
Mas o que era esperado? O que se espera de cacos ao chão?
Queria ter te dito algo. Queria não ser tão coberta por meu silêncio agora.
Só te peço desculpa. Hoje e em todos os dias que acordo, por não ser mais o que esperava.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Sunshine

Ó querido amanhecer, vieste mais uma vez me visitar! Sua presença me induz a crer em novas oportunidades. Ver-te trazendo-me o sol com tanta pontualidade em qualquer circunstância, me faz admirar-te! Queria eu ser tão inabalável. Com os dias, aprendo contigo. Quero ser assim quando crescer. Impossível impedir que eu veja menos brilho nas coisas. Impossível impedir que o tempo adulte-me. Contudo, o teu brilho me faz querer continuar e caminhar junto a ti. Vou aprender, vou te observar e vou ser melhor. Amanhã e sempre.

Invertido

Era uma criança. Os sonhos eram como pipas.
O desenrolar do novelo do barbante que estendia cada um deles era curioso.
Bastava pensar em um objetivo e ele já era completamente maquinado em sua cabeça.
Era feliz em sonhar.
Eis que surgem os problemas e ela cresce.
Idosa-se. Envelha-se. Descolore-se.
Nenhuma das pipas eram mais tão notáveis.
Seus sonhos eram mais próximos da realidade.
Já não voava tão alto e mesmo assim, não chegava a concluir.
As pessoas estavam sempre pulando e quebrando a linha.
As pessoas que amava não estavam onde deveriam.
Não estavam em paz, então ela também não estava.
Ela cresceu e o seu mundo continua de cabeça para baixo.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Nada II

Eu penso demais.
Talvez, afinal, seja esse o meu problema.
Cálculos, metas e planejamentos sem nenhum sentido.
Traço rotas de fuga semanalmente.
Válvulas de escape diárias.
Desenho o que poderia desconstruir.
O que poderia me atingir.
Aponto falhas no plano.
Nunca nada dá certo.
Aí, eu penso em desistir de tudo.
Jogar para o alto!
Mas o quê? Se nada saiu do papel?
Inquietude habitual do que nunca se tem.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Ancorar

Um abraço seguro. Um porto final para o meu navegar. Uma boa alma que me reerga.

Com as ondas do tempo, espero vir. Navio sem âncora não tem destino nesse luar. Chega de deitar nessa água salgada e olhar para o sol.

Bonne nuit

Em tempos de turbulência, as tuas palavras se fazem travesseiros da minh'alma.
Tua voz é como o elixir da tranquilidade.
Me dá o presente do descanso com pouco esforço.
O conforto dos seus olhos fazem os meus sentirem falta em breve ausência.
Fecho a cortina. Posso dormir.

Magia

É difícil respirar. Pareço ser cada vez mais comprimida pelas preocupações. Me sinto em uma caixa. Me sinto crescendo em uma pequena caixa. Jogam-me situações das quais não consigo resolver. Quem dera tivesse magia em mãos para arrancar suas dores, mas meus truques não vão tão longe.

No More

Tijolo por tijolo, vou montando o meu castelo.
Cada dia parece exigir um novo sopro de vida,
a cada passo, uma nova batalha.
Parede por parede, vou levantando.
Novas tempestades surgem.
Ventos fortes. Raios.
Vai sempre ser assim.
Contudo, não tenho mais medo.

domingo, 10 de novembro de 2013

Relancer II

Não houve um só dia em que não quisesse sair dali.
Seus sonhos sempre foram maiores que o quarto em que se protegia.
O seu olhar pousava na janela.
Almejava um longo navegar.
Queria conhecer, queria viver.
O vento que beijava seu rosto lhe motivava a ir além.
Os dias lhe sussurravam carinhos para continuar.
Não acabara ali. Estava viva.
Reconstruía-se continuamente.

Water

Amanheço. É um novo dia.
O abrir dos meus olhos me faz renascer.
Estou de pé. Tenho mais um dia para reescolher.
Contudo, sinto-me ilhada no leito do meu rio.
Posso sentir a água passando pelos meus pés.
Posso sentir a vida passar.
Até quando?
Espero um bote, alguém que saiba nadar.
Até quando?

sábado, 9 de novembro de 2013

Não

Os meus dias não correm. Se arrastam.
O meu tempo não voa.
Quiçá, eu saberei, um dia, o que é ter asas.
Sobre a minha pele, uma crosta abstrata se forma.
Armadura invisível. Me protejo.
Regrido, dou um passo p'ra trás.
Não sei andar no escuro.
Sempre tive medo. Encolho-me.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Relancer

O quão alto pode-se voar?
Impulsiono-me a ir mais longe.
Nada terrestre me faz mais admirar.
Perdeu-se a cor e o tom. Perdeu-se a graça.
Quero enxergar além. Descobrir as sombras.
Te abrir sorrisos, abrir os meus.
Olhar com atenção. Viajar pelas janelas da alma.
Alçar voos que me levem aos mais lindos lugares.
Ter asas. Ir embora. Renascer em cada novo passo.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Reflexo interior

O quão leve podemos ser?
Eu me olhei no espelho.
Não pareceu literário, uma obra de um grande escritor.
Contudo, me olhei nos olhos.
Profundamente, pude me ver.
Vi que ainda existia brilho.
Significou tantas coisas.
Vi que havia vida.
Vi que haviam quereres.
E sem que percebesse,
Um sorriso meio de canto
Foi amanhecendo em um olhar já cansado.
Sim, ainda era viva. Dali, ainda frutificariam alegrias.

domingo, 3 de novembro de 2013

A life

Era primavera.
Em poucos passos, se fez outono.
Dentro de si, um eco.
Um monte de rei sem trono.

Folhas ao vento formavam notas em um coral.
A canção se fazia ouvir para quem passava.
Caule fixo, era. Hoje distorcido.
Ainda, sem ninguém cantar, dançava.
Nada parecia seguro.
Tudo caia. Tudo se quebrava. E se refazia.
O amanhecer era o sinal de partida.
Tudo mudava e renascia.
Com tudo fora de lugar, vivia.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Eco

Derrama-te, doce anjo.
Derrama-te e te joga no que foste.
Espalha-te, menina.
Sorria. Aproveita-te de ti mesmo.
Te recolhe só para novamente te soltar.
Chega de potes fechados. Urnas. Baús.
Chega de coisas chavenêuticas.
Te destranca, menina.
Te destrava... Liberta-te.
Viva!

Senti

Aquele laço, outrora protetor,
hoje se mostrou.
Eu o senti.
Lembrei que eram o meu refúgio,
meu deitar e descansar.
Meu porto.
Hoje, eu lembrei.
E nem por isso, os retomei.
Âmago paradoxo.
Chuva de meteoros sentimentais sobre mim.
Chuva nostálgica e repulsiva.
Alguém, por favor, me explica.
O que estou fazendo?
O que se tornou o meu viver?
Lembrei o que eu era,
por outro lado, vejo o que me tornei.
Não me acho. Estou perdida.
Perdida...

Não foi dito

Eu poderia ter dito tanta coisa...
Poderia ter dito o que os teus olhos representavam para mim;
Ter dito o quanto aquele abraço me fez bem.
Eu poderia ter te dito o quanto sentia falta desse lado bom,
Ou ter dito o quanto estava feliz pela ironia do destino.
Mas que destino? Não acredito nisso.
Eu estava ali, porque deveria estar.
Para mim, foi cabível.
 Eu poderia ter dito que sua cumplicidade me faz falta;
Contudo, eu não disse.
Não consegui ignorar o que se passou.
Nao consegui abrir mão do meu silêncio e fiquei muda.
Dentro de mim, mil sensações.
 Mil lembranças, um turbilhão.
 E ainda assim, eu não disse.