quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Coexistência habitual

Neblina se derramando pela janela.
Pelo chão, as marcas do que outrora era e se tornou.
Papéis espalhados. Amassados.
Incrível transitoriedade do ser humano.
Mexer em cartas ou em qualquer registro de conversas de algum tempo remoto
são sinônimos de uma viagem no tempo.
Quiçá, outro mundo.
Metamorfoseando, todos seguem por seleção natural.
Bicho homem, instintivo.
Tem o poder de acabar o que é bom por nenhum motivo.
Tem o poder de acabar com os próprios sonhos.
Produzindo monstros em escarceis dramáticos de um imenso vazio.
Fecham-se as cortinas.
Constantes caçadores do que preencha,
constantemente achando e jogando fora.
Tesouros ignorados, oportunidades chutadas pelo vão da porta.
Assim seguimos. Rotineiramente se habituando.
Coexistindo e nem sempre para frente, andando.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

I wish

Um dia achei que fossemos o melhor de nós.
Achei que cresceríamos e construiríamos nosso castelo.
Eis que certa vez, me calou.
O nosso sino do meio dia soou.
Era o fim do prazo. O fim da linha.
Meus sonhos há muito se arrastavam ao chão.
Já não existiam mais nuvens para flutuarmos.
Era tudo neblina.
A rotina foi arrancando nossos pedaços.
Se desfaziam os laços.
Deterioraram.
Triste fim sucedido a um sonho tão bom.
Hoje, cicatrizada, procuro paz.
Um amor amigo, companhia verdadeira.
Que valha a pena ser tirada da minha confortável zona.
Não quero mais tanta parede, tanta proteção.
Um dia, alguém que possa me conhecer.
E que queira ficar mesmo assim.
Um dia, um sonho.
Acordo.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Superfície

Nem consegui formar palavras ultimamente.
Não me deixo mais submergir nesse mar de correnteza de fim, o fundo.
Não mergulho mais. Não sabendo voar, posso nadar.
Sair daqui, voar de certa forma. Continuar. Viver.
Fugir. Ir à superfície. Respirar.

Não vejo

Desculpa, amor, se hoje não te vejo.
As avenidas por onde passo andam turvas.
Perdoe, amor, se não te ouço.
Ensurdeci-me, esfriei-me.
Desculpa, amor, se não te chamo.
Deitada estou e permaneço aqui há tanto tempo...
O teto parece me hipnotizar.
De vez em quando, vejo letras curvarem-se ao redor do lustre.
Vejo cores desfalecidas pelo tempo.
Vejo sombras, nada da minha peça.

Levanto.

A pior forma de continuar seria me deixando ser levada.
A correnteza do rio da vida tem sempre o mesmo sentido.
Não mais poderia simplesmente passivar.
Tenho um viver, uma rotina, que por mais flor com espinhos, tem a sua beleza.
Pétalas de encher os olhos.
Costumo dizer que tristeza é questão de foco.
Quero olhar para frente. Tomar as rédeas no meu cavalo pomposo.
A sua marcha, pode sim, ser leve. Eu decido.
Levanto. De agora em diante, será assim.
Tendo o meu sentido, caminhando para o futuro.
Hoje, a passos lentos, um dia talvez, a passos mais alegres.
Mas sempre em frente. Enfrente.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Mais e más notícias

Genealogicamente sangue do meu sangue.
Galho por galho meu, nutrido por tuas fontes.
Distância por distância física, nada de mudança.
Lágrimas aos montes.
Rios vermelhos sem desaguadouro.
Infindo leito.
Preocupada, procuro um jeito.
Chego em casa e já não deito.
Se deteriora.
Sempre em cacos, permanece. Chora.
Sem previsão de resolução.
Continuo aos estorvos.
Aos pedaços, vejo se arrastar.
Se desespera, grita, sem ter pra onde voltar.
Ouço as correntes ao chão. Arrastam-se sem rumo, sem fim.
Aflição.
Já não vejo saída.
Não é mais vida.

O quê.

Será um tapete camuflando buracos?
Uma chave sem porta, rua sem saída.
Será utopia distante, será sonho sonhado sozinho?
Será meu castelo, será minha busca?
A peça que falta.
Falsas verdades, desconhecidas respostas.
Um prato raso da sopa preferida,
um conta gotas de bons momentos?
O que será? O que é real?

O meu castelo

Há dias em que minha confortável paciência me tapeia.
Há dias em que todo o meu comprometimento em entender extrapola o tempo no espaço.
A vontade que vem substituir é de estourar a última bolha.
Derramar as últimas gotas de água do balde.
Rua sem saída. Conversa sem conclusão.
Queria eu, poder falar tudo o que eu sinto,
tudo o que eu quero dizer.
Mas só de olhar pela minha janela, desisto.
Do que adianta falar o que só faz sentido para mim?
Castelos de areia de quinze andares.
Meu e somente meu. Escondo. Ninguém vê.
Castelo de sonhos que talvez nunca serão descobertos.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Queridas palavras

Nem só de dor, vive o poeta. A alegria também o visita.
Nem só do derramar manente de suas lágrimas, ele vive.
Nem só do olhar desfocado e controverso da realidade.
As mais bonitas prosas e os mais bonitos versos vêm do escuro, sim.
Contudo, letrinhas recém desenformadas também aparecem ao amanhecer.
Sombras se mostram amigas de suas rimas, de seu divagar.
Bonito é ver como se extrai o que é agonia, em uma saída saudável.
Sem cacos, sem restos. Só termos.
Palavras procurando alguém a quem acariciar.
Ao alcance do seu toque, elas esperam. 
Me's abracem.

Um pouco mais

Reações tão absurdas que imprecisam de alucinógenos.
Desespero em viver absurdamente o que é feliz antes que termine.
Olha para trás e vê a motivação de tudo isso.
Tenta aproveitar cada segundo do que é bom.
Tenta absorver tudo de lindo que existe no momento,
para que o resto dos dias sejam amenizados à sombra desses.
Desespero solitário, o dessa moça que quer ser feliz um pouco mais.
Não por momentos passageiros, mais um pouco mais.
Um pouco mais perto, um pouco mais contínuo, um pouco mais sorriso.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Visionária

Pela porta, vejo um vão.
Um brilho misterioso seduz os meus olhos.
Curiosa menina. Mal consegue aquietar-se.
Não consegue ser meio. Não consegue viver meio.
Contudo, isso nunca a impediu de viver, vez ou outra, desta forma.
A mania de ser tudo tem te enfraquecido.
Desesperançosa, passeia pelos seus dias atenta a qualquer coisa.
Alguma mudança, não sei. Alguma novidade.
Incauta menina, utopista mulher.

domingo, 18 de agosto de 2013

Nomadizando.

Hoje eu tentei chorar. Não consegui.
As lágrimas parecem ter ido embora levando parte da minha sensibilidade.
Hoje eu tentei dar gargalhadas. Não consegui.
Tento, mas não sei por onde seguir.
Perdida, sempre ando pelas mesmas ruas sem um lugar para repousar.
Sem um ninho, sem uma manjedoura, sem um porto.
Meu navegar é lento e indestinado.
Sempre indo embora, eu continuo.
Sempre dando adeus.
Quiçá, um dia, poder ter um desfecho diferente.
Um dia, um sonho.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Prossigo

Raios e trovões sobre o teto findados, o silêncio impera.
Ando pelas ruas e consigo enxergar o quão bonito as coisas podem ser, se eu souber olhar.
Pares andantes, dançantes. Vínculos reformando-se mutuamente e isso passava despercebido.
Mania de formar um centro e esquecer os mundos que se derramam nas ruas.
A cada esquina, surpresas. Ainda posso me surpreender.
Tenho me deixado. Decido não me cobrir de sombras.
Não preciso. Não posso. Não depois de tudo pretérito.
Sem esperanças individuais, sem expectativas de mudanças.
Me acostumo comigo, faço as pazes. Sigo me enchendo da beleza dos outros.
Quero poder ver o que é bonito. Assim, o farei. Nada me fecha os olhos.


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Desafogo

Uma mão invisível e sempre presente se estendeu.
Não deixou me perder por entre a queda no lago.
Me segurou sem eu querer segurar.
Me acudiu quando meus olhos estavam fechados.
Quando só queria olhar internamente.
Me trouxe à superfície.

Hoje não

Pelo caminho, percebo o que me move.
A minha constituição.
Minhas partículas são feitas de tristeza.
É o que me faz andar, o que me acompanha.
Dia após dia, sinto cada gota na minha corrente sanguínea se mexer obrigadamente sendo levada a ver algo bom nas coisas que me acontecem.
Hoje é diferente. Não quero e nem vou procurar desviar o foco.
Pisei em um cascalho solto e cai no lago fundo da minha realidade.
Não vou gritar, não vou pedir socorro.
Hoje não.

Perdi

Perdi o acelerador, perdi o freio.
Perdi a chave de casa, perdi o ponto de checagem.
Perdi qualquer coisa que me faça lembrar pra onde iria.
Novo dia. Nova fase. Novo rumo.

Pensando com clareza

Amanheceu. O rastro de cinzas da minha sombra não aparece mais.
A claridade veio para destruir qualquer vestígio de qualquer coisa que se escondesse ainda.
É o fim da linha. Cruzei a linha de chegada. Não há gritos ou sorrisos de recepção.
Entre penhascos e aldeias planas, a hora final chegou.
É preciso decidir minha nova direção. Não tem mais jeito.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Voltando à toca

O mau tempo sobre minha cabeça é totalmente desordenado.
Nuvens passeiam no meu quintal, indo e voltando todos os dias.
Pulo o muro da tempestade. Entro em um vão e me escondo.
Não quero mais estar assim, tão vulnerável.
Não quero mais esses pingos agulhados.
Sinto frio e procuro um lugar onde me aqueça.
Ficarei por lá por tempo indeterminado.

Vezo

Contra o tempo, persisto em meus dias. Derramando sonhos pelo caminho.
Deixando cair pedaços de planos pelo chão, sem esperança que alguém me siga juntando-os.
Não tenho companhia. Inspiro cada partícula de oxigênio sem brusquidão.
O tecido que me veste é escuro. Meu vestido rodado não roda mais.
Não espero mudanças. Mais uma vez, me convenço disso. Me acostumo.
Tranquila sigo e só.

Never more

Se olha e não percebes.
Não enxerga e não vê.
Presença invisível.
Gestos imperceptíveis.
Cansaço, repetição.
Observo a inobservação.
Não vire, não adianta.
Falta de atenção.
Achará mais tantos ângulos interessantes.
Ninguém colore, ninguém dança.
Permanecerá. Será?
Inexistente esperança.

Stay

Esteja presente, nem que por um bom dia.
Esteja presente, nem que para perguntar o que estou fazendo.
Esteja presente, nem que só para reclamar de fome.
Esteja presente. Repito e vejo ecoar esse tipo de frase por dentro.
De mim e para mim.
Desde sempre. Desde a rotina pretérita dos meus dias.
Desde pequena e sendo grande.
Desde correntes sanguíneas, às correntes do coração.

Instavelmente bem

Pisando em água, esperando estabilidade ao caminhar.
O chão parece terremotar a cada passo.
Fechei o olhos e segui, porque era para frente que deveria ir.
Ruim é saber que se deve continuar e sempre esperar que as coisas mudem de direção.
Ruim é saber para onde ir e não conseguir se sentir segura e decidida o suficiente para andar.
Quero colo e uma mão para segurar.
Quero companhia para a caminhada.
Quero paz e tranquilidade. Quero estar indefinidamente feliz ainda por muito tempo!

Crash!

Algo se quebrou.
Se por inconsciência, o pássaro azul abre as asas em ações que fazem o outro o perceber, por consciência agora, não o acontecerá mais. A naturalidade estará escupida bonita e bem apresentável em um trono. Folhas de bananeira a ventilarão.
Nem um sinal de correntes.
Tenho medo de aprender a voar e ser impedida.
Não quero asas cortadas. Não quero paredes sob meus olhos.
Quero a paisagem do céu. Alcançável e perceptível ao meu flutuar nas nuvens.
O vento me abraça. Apesar da tempestade invadir vez por outra, quero poder senti-la.
Deixe-me estar por perto, porque quero. Não vou embora se me sentir com opções para isso.
Preocupações não cabem mais. Dores de cabeça. Explosões. Tudo no lugar errado.
Tudo sem o mínimo sentido e ninguém mais se importa.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Recentes constantes

Estou presa ao silêncio.
Vivendo como refém, atormentada pelo simples fato de pensar.
Acúmulo de perdas. Restos de tudo o que deu errado.
Migalhas de reconstruções insistentes.
Presente concreto frio e recém nascido. De novo e mais uma vez.
Acordo e me esforço para aguardar o sono, rendida a cada alvorecer.
As estrelas vêm e vão me impedindo de acompanhar sua constância.
Vêm e me sentenciam a vê-las partir.
Levam a cada viagem, mais uma parte do meu eu quebrado.
Reconstrução com progresso inverso.

Desmedindo

Sinto o cair das decisões mentais.
Arcaboiço desabado.
Desmedidos passos.
Me largue, me solte, me deixe viver.
Por quê?
Quero ar. Quero poder respirar aliviada.

Temporal aleatório

Como num temporal, vejo todas as páginas voarem sem direção certa pela casa.
Escritos, por mais que turvos, montados minunciosamente jogados ao mar.
Nada mais faz sentido. Quando iniciava um significado, um porquê.
Até estávamos todos nos acalmando.
Tempestade chega novamente. Bagunça aleatória. Desmedida. Inconsequente.
Sinto pedaços do nada se degradarem e chegarem ao chão aos poucos.
Gotas despencam, fazendo desabar construções recém finalizadas.
Mau engenheiro, esse. Planejamento desprogramado.

domingo, 11 de agosto de 2013

Aguerrida inutilidade

Ocorre-me o sorriso.
Hoje noto parte da beleza, ser a raridade dele.
Triste fato, o constatado.
Pela especiaria de vê-lo, torno-o um tesouro.
Meus dias parecem se arrastar ultimamente.
Aguerrida aflição de não poder arrancar essa dureza que te encharca.
Observo. E nada, nada faço.


Desalento

Entre tudo o que meu silêncio quer me dizer, vejo algo agora.
Algo que discorre sobre o egoismo que há em ser triste.
Meu coração, hoje tempestuoso cheio de ventos batendo nas paredes de si mesmo,
narra-me o quanto posso ainda não olhar pra ele.
Olho em volta. Coisas boas saltam e pousam confortavelmente.
Não posso focar no que rebentou, no que não tenho aqui dentro.
Meu coração impovoado, trancou-se há tempos.
Por mais que tente irromper as trincas vez ou outra, não está na hora.
Estou em construção ali dentro.
Posso, então, mudar o foco. Meu olhar pode acompanhar minhas tarefas.
Minhas conquistas estão numa estante à minha frente.
Observo. Faço-me feliz. Garganta abaixo, motivos que me coloquem para cima.
Sei que consigo. Tenho progredido. Raios de sol dão o ar da graça de vez em quando.
Desfoque. Escolhas. Mudanças.

Devaneio

Foi um lapso. Um raio laser, uma estrela cadente, um raio.
Como o instante de uma queda, um tropeço.
Finito.
Obliteração da realidade. Buraco negro, um vórtice.
Foi um sonho. Uma boa divagação, bons pensamentos.
Finitos.
E assim, como veio, passou.
Me atropelou, correu. Sem socorro, sem observações.
Desertou, desarvorou. Desvaneceu-se.

sábado, 10 de agosto de 2013

Ser bolha e voar

Ser bolha e fazer meu ar deslizar sobre seus cabelos.
Observo cada partícula que voa na minha frente.
Dançar de mãos dadas com o vento.
Ir por onde for, ir para onde for.
Ser bolha e ter a existência resumida em um passeio livre e lindo.
Estar apta a ir, sendo levada. Estar disponível na atmosfera.
Ser livre e voar... e ir para longe. Quiçá, te encontrar.
E enfim, poder estourar. Findar com a sensação de dever cumprido.
Te achei. Enfim, completei meu ciclo. Amar.

Pequenos detalhes

São coisas com as quais me apego.
São coisas pelas quais te conheço.
Pequenos detalhes que me fazem mudar de ideia.
Observo.
Coisas que se denunciam.

Claro e evidente

O primeiro raio de sol chega como peça essencial de decisões a serem tomadas.
Tudo parece ficar mais claro e definitivo quando se acorda.
A noite trabalha na mente como se organizasse o quarto.
Colocasse as coisas no lugar, diminuísse a bagunça e apontasse quem, afinal, anda levando 8 merecendo 3.
Mania de prolongar as coisas. Mania de estender tudo na esperança que melhore. Perca de tempo. Hoje acordo e vejo tudo claro.
Apesar das sombras, quero mesmo estar onde estou. Meu coração não anda habitável.
Essas datas sempre jogam tudo pro alto e me fazem observar quem me ajuda a pegar antes que caia no chão. Inconscientemente, as pessoas se mostram. Averso-me a esse tipo de datas.
Mas já que chegam, melhor que tire o melhor delas.
Cansada de arrastar coisas, solto as duas mãos do balanço.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Sobre vôos

Voe, voe passarinho, mas aprenda o caminho de volta.
Voe, voe, mas não esqueça de não fechar a porta.
Voe, passarinho, mas não me deixe te ver partir.
Voe, mas que não seja em definitivo.
Voe, passarinho e faça muitos amigos.
Voe, passarinho e amplie suas experiências.
Voe e cuide de você por você.
Voe, mas por favor, passarinho, volte um dia.

Wrong time

Quando vens, é quando vou e não quando te chamo.
Tu me olhas, quando não olho ou quando virei as costas.
Quando me chamas, é quando não estou ou quando não ouço.
E quando me tocas, é quando estou longe ou quando inexisto.

Quando vens, é quando fecho os olhos ou quando eu durmo.
Tu me olhas, só quando já fui ou quando estou lá.
Quando me chamas, é quando eu grito ou quando eu corro.
E quando me tocas, é quando não espero, me sinta e morro.

Horas erradas, me perseguem e persistem.
Horas erradas que sempre me travam e nada acontece.
Horas erradas, me esqueçam, desapareçam.
Horas erradas. Horas erradas... horas erradas.

Ilusão solitária

Triste forma de ver a vida, se não se tem esperança.
Triste o pássaro que aprende a voar e não tem um ninho.
Triste a mão que não tem outra para segurar.
Triste realidade a de um barco sem um porto.
Triste a rota de uma viagem sem destino.
Triste o carro sem bancos fundos e gastos por passageiros.
Triste a caneta sem ser emprestada.
Triste o anel sem ser posto em um dedo.
Triste o avião sem os beijos diários das nuvens.
Triste o livro que não é lido.
Triste sou eu ou você, quando pensamos que se pode ser feliz vivendo sozinho.

Ser poeta

Ao passo que ando, observo o quão triste é ser poeta.
"Se tua dor te aflige, faz dela um poema." Li.
Poesia, em mim, é isso. Dor transcendida. Resumo ao meu ver do que vi.
Poesias são sombras. Sombras que de mim, não saem.
Poesia é você, sou eu, somos todos por minha vida.
Tristes lembranças, dores de partida.
Busco palavras em cada gota de reflexão de dias tristes ou, ao menos, pensativos.
Palavras que me traduzam. Palavras. Ao vento, ao chão do meu pensamento.
Palavras dançando, no ritmo sem nexo do meu tormento.
Expulsas hoje, expulsas sempre, vem procurar abrigo aqui.
Em tão humilde recanto, tão discreta estante.
Minha paradoxa despensa dançante.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Me disseram

Um dia, me falaram sobre um caminho seguro.
Um dia, me explicaram sobre refazer laços.
Num belo dia, foram embora reforçar os seus.
Um dia, eu fui paraquedista.
Um dia, fui a moça bonita.
Num belo dia, a distância se juntou a nós.
Um dia, não entendi o que quis dizer.
Um dia, não quis soltar tua mão.
Num belo dia, continuei a viver.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Icognitando

Necessidade de gritar.
De falar.
De pular.
Necessidade de viver.
De correr.
De te ver.
Necessidade de ouvir.
De sorrir.
De sentir.
Necessidade de ser.
Necessidade de estar.
Necessidade de necessitar.
Cascata de pensamentos que se esborracham no chão.
Desprezo a ordem e a orientação de cada um que consegue fugir.
Siga seu destino e seja livre.

Amado, amigo

Por que te vais, amado amigo?
Por que sempre te vais?
Curiosa e cruel realidade que me tapeia todas as vezes que me acaricia.
Gélidas unhas as que me arranham ao pousar de um lindo voo.
Por quê, amado amigo?
Tão sem hora e sem momento.
Subitamente somes.
Pelos anos que te cuidei.
Pelo amor que te entreguei.
Pela vida que te dei - a minha, todos os dias.
Nem todo o pranto substitui tua perda.
Os anos passam e me sinto perseguida pelo tempo por tua falta.
E sempre te vais.
Então, fiques, amado amigo, dessa vez,
Pelo menos dessa vez comigo.

Transplante

Vem aqui, preste atenção. Encosta a cabeça no meu colo, menino.
O mover de meus dedos em teus cabelos criarão poderes.
Poderes de absorção do que te passas.
Inoculando o melhor do que ainda me resta.
Como soro goteando na tua corrente sanguínea, receba um sorriso.
Como sonda que te suga o que é lixo, me dê seu pranto.
Realidade imprópria e indelicada, essa que dificulta teu caminhar.
Estou aqui. Apoio e andador. Seguro tua mão.
Fragmentos de um ser alegre, pelo menos por fora.
Fragmentos do que superficia.
Te dou minhas cobertas, a parte que é.
Quiçá, daria um coração novo, se o meu não se arrastasse.
Compartilho realidades.
Me deixa estar. Me deixa transplantar.
Cirurgia progressiva.
Não espero recompensas. Contudo, poderia ser um sorriso.
De longe, daí. Mas valeria a pena.
Um novo dia quase bate à porta.
Será melhor.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Get old

Ao passo que caminha para tardios dias,
corre na linha do tempo paradoxa de internamente envelhecer.
Acentuado trânsito de pensamentos, extremo desgaste mental.
Velhinha abstrata.
Fácil revelada, implícita em palavras.
Entranhas enrijecidas sem rugas concretas.
Rugas no olhar, mas por dentro.
Ela havia se tornado anciã antes mesmo de andar com as próprias pernas.
Havia saltado de olhos fechados. Do resultado, ninguém sabia.
Apostaram nas condições climáticas.
Hoje, se vê. Se vê de pé. Passos arrastados são fato.
Uma ou outra cicatriz, mas se vê de pé.
Velhinha abstrata, mas menina.
Menina, ainda, com sonhos.

Quereres

Eu quero tranquilidade.
Quero amor sem necessidade.
Quero estar assim, quero estar feliz sempre.
Em sonhos, reviver, o que na realidade acontece.
Quero brisa, quero leveza.
Quero companhia, quero amizades.
Quero finais de semana vendo filme.
Quero dias de chuva.
Quero abraços, mas apertados.
Quero carinho, quero brincar.
Quero você para conversar.
Sou admiradora de sorrisos.
Sou admiradora do teu sorriso.

Máscaras desesperadas

Há quem diga que não acredita no amor.
Vejo sorrisos tristes escondidos e purpurinados por detrás de tais palavras.
Por baixo de palavras sem apego, palavras sem sonhos e sem esperanças de algo de "nós" em um futuro incerto. Planos feitos e refeitos em cima de palcos ocos de qualquer real expressão de qualquer coisa.
Vejo palavras voarem sem destino, sem rumo, desesperadas em pousarem em ouvidos que as escutem. Tempestade artificial crescente.
Vejo tristeza bem vestida, intoxicada, bem descolada, buscando um pouco de simpatia. Visão turva.
Vejo a vida sendo mascarada na tentativa de se acreditar que essa é a melhor cara.
Máscaras que protegem, que fingem, que gritam e pedem ajuda à alguma sensibilidade que as note.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Nirvana

Claridade lunar. Sou fã dessas noites.
Aplaudo com o meu interior.
Da janela, vejo calmaria.
Suspiro, buscando a normalidade da agitação.
Minha casa é minha nave e tendo a pousar em lugares agitados.
Não dessa vez.
Sou marciana bem recebida. Afinal, a falta do ruim é bom.
Paradoxo relaxante para a alma cansada.
Imaculada tranquilidade.
Observo e aproveito.

Bola

Quantas vezes eu perdi a noção de como continuar?
Quantas vezes eu me perdi em minha própria estrada?
Quantas vezes eu tropecei em meus próprios passos?
Numa bola, está o controle. Descobri.
Bola essa, que corre, que pula.
Bola essa, que de quase todas, descansa no leito errado.
Acalme, respire, segure-a. Solucione, grite.
Alegre-se. A bola é sua, tome posse.

Vagar devagando

'Ando devagar, porque já tive pressa' e hoje vejo, que nada adiantou.
'Ando devagar, porque já tive pressa' e hoje vejo, que só me cansei.
Ando devagar, porque percebi que as coisas que são pra acontecer, buscam suas formas de surgir.
Ando devagar, porque de nada adianta correr sem saber aonde ir.
Ando devagar, porque meu passo lento já me levou a lugares que nunca imaginei chegar.
Porque minha rotina de vagar é fixa.
Porque minha rotina de vagar é rotina.
Porque minha rotina de vagar tem me dado tranquilidade.