Inatingível

Sabe, eu achei um grande amor.

Ele só é um amor impossível.

Sim, eu tenho mesmo um grande amor!

Mas ele beira o inalcançável, o inviável, inatingível.

Daqui, miro, contemplando a ironia da vida… de ter me trazido o sabor. O frescor de experimentar tal dádiva. Agora, sei que existe. O quão preciosa é a sensação de desfrutá-lo em minha mente… quando, ao passo que avanço, não te alcanço.

E afinal, por que?

Sabe, eu tô feliz por descobrir um grande amor.

Só me resta a vida, em seus infinitos ensaios, abrir as cortinas para que o palco seja habitado.

Que o amor viva. Que ele exista. Que ele suceda.

Pois de imaginar-te, minha mente é cheia.

De ensaios, este palco lota há tempos.

Agora, quero o imenso. Quero estreia.

Prece

Que o amor seja o maior condutor. 

Que a espera pelos presentes do universo não seja a única definidora.

Que a vontade nos aproxime. 

Que o caminho se cruze. 

Que o carinho multiplique. 

Que haja, que aja, que nos movimentemos.

Que amemos.

E que eu te tenha, cada vez, mais aqui. 

Queda livre

Equilibrar-se na corda bamba dos instantes… olhos fechados. Me recuso a ver.

Viver com o que é palpável e encostar-se na parede confortável de até onde me deixa chegar. Desejar, sonhar e nunca saber realmente onde estou. Não enxergar, não calcular, se jogar em queda livre. Uma viagem cega ao infinito.

Aos 30, encontrei meu caminho, afinal… ou, pelo menos as respostas a tantas perguntas do meu coração… e ainda hoje me pergunto se, talvez, não esteja trilhando pela estrada de outra alma sonhadora.

Será mesmo tão especial, quem vos fala, para te puxar para o meu lado?

Em meus sonhos, oro por uma tempestade, uma ventania, uma milagre… uma epifania que te traga aqui. De vez.

Aqui e o que importa

Era, certamente, uma realidade paralela. Eu sabia.

Não sinto o que não é, porque aqui dentro existe e é real.

Aquela imensidão verde me dizia o mesmo. E mais um tanto.

Ou era o que queria ver. Mas qual era o limite deste sonho?

A realidade é dura demais para que mergulhemos nela. 

Fica aqui… Eu não quero abrir os olhos.

Ainda que a ventania venha, que este abrigo nos guarde.

Fica só mais um pouco.

Olhar para fora não me parece seguro.

Nesse mundo nosso, criado tão cheio de estrelas e sorrisos que mal parece o que realmente é.

Me recuso a andar por essa estrada cheia de leveza perdida e consumida.

Que voemos. Que caminhemos pelos nossos atalhos.

Para longe e sós. Que voemos.

E que o que importa seja vivido. Hoje e tão somente hoje. 

Como um vício em nós, só por hoje.

E mais nada.

O último adeus

Aqui estou, perdida em mil pensamentos… novamente sob o chão do cais, vendo o barco seguir o seu próprio caminho… juntando os cacos de um coração que não pode mais se recompor… pedaços de um futuro que nunca existiu. Retalhos de um destino irreal. De um amor que lutou, mas não nasceu para sobreviver. Hoje vejo teu caminhar, de longe, por entre os galhos de tantas árvores e sombras. Busco teu sorriso… não consigo enxergar. Ou será eu, que não quero ver? Sei que não está ali… sinto. E nada posso fazer. Cada lágrima de hoje é, talvez, um trecho importante de uma despedida absoluta… que durou quase uma vida inteira pra acontecer. É chegada a hora, meu grande amor. Tardia e dolorosa, mas precisa. É chegada a hora do ponto final. Adeus.